O Workshop: ““Boas Práticas para Uso Eficiente de Fertilizantes e Nutrição Sustentável de Plantas”, que será realizado no dia 9 de novembro, no Feira do Produtor Rural da Benjamin Constant, Ponta Grossa (PR), das 7h às 13h. O evento faz parte da disciplina “Nutrição de Plantas”, realizado em conjunto com empresas privadas (Calpar, ICL e Nitro), públicas (UEPG e IDR) e instituições sem fins lucrativos (AEACG, ANDA e NPV).
O uso de fertilizantes é indispensável para a agricultura moderna, pois fornece às plantas os nutrientes essenciais para o seu crescimento e para uma boa colheita. No entanto, se aplicados de forma errada ou em quantidades inadequadas, os fertilizantes podem gerar um custo extra para o produtor, comprometer a qualidade dos alimentos e causar danos sérios ao meio ambiente, como a poluição da água.
Dr. Adriel Ferreira da Fonseca, professor associado e coordenador no Departamento de Ciência do Solo e Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), explica que seguir as Boas Práticas para o Uso Eficiente de Fertilizantes (BPUFs) é a chave para evitar esses problemas e garantir uma agricultura mais sustentável e econômica. As BPUFs envolvem cuidados simples, como a análise do solo, o controle da acidez e o uso de novas tecnologias, que ajudam a aplicar a quantidade certa de fertilizante, no momento correto e no local adequado.
Dessa forma, o produtor consegue obter colheitas saudáveis e abundantes, com menos desperdício de insumos e menos impacto ambiental.
"Nossa meta com as BPUFs é ajudar o produtor a entender melhor o solo e a planta, para que cada recurso seja bem aproveitado", afirma Dr. Adriel. Além de garantir uma melhor produtividade, essas práticas também trazem benefícios ambientais, como a preservação da água e a redução da emissão de gases de efeito estufa, um passo importante em direção a uma agricultura de baixo carbono e alinhada com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Minuto Rural - Quais são as principais práticas recomendadas atualmente para o uso eficiente de fertilizantes e por que são tão importantes para o produtor rural?
Dr. Adriel - As boas práticas para uso eficiente de fertilizantes (BPUFs) incluem, resumidamente: (i) amostragem, análise, interpretação e recomendação segura de corretivos, fertilizantes (minerais, orgânicos e organominerais) e condicionadores de solo, bem como de outras fontes de nutrientes devidamente registradas no Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA); (ii) controle da acidez do solo; (iii) gestão da matéria orgânica do solo; (iv) construção de perfil de solo, resolvendo eventuais impedimentos químicos e físicos para o crescimento radicular das plantas; (iv) práticas de conservação do solo e da água, inclusive, cobertura permanente (do solo), rotação de culturas e adubação verde; e (v) utilização responsável dos bioinsumos modernos.
As BPUFs, em curto prazo, aumentam a lucratividade do produtor rural e proporcionam condições para obtenção de produto final (alimentos, fibras, madeiras, energia etc.) de melhor qualidade. Além disso, as BPUFs estão em consonância com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). As BPUFs possibilitam agricultura de baixo carbono; conservação da água e do solo; sustentabilidade agrícola, econômica e ambiental; e rastreabilidade da produção agropecuária.
Minuto Rural - Como o manejo correto da adubação pode reduzir a quantidade de fertilizantes usados sem comprometer a produtividade das lavouras?
Dr. Adriel - A gestão adequada da adubação implica em aplicar o “Conceito 4C”, que orienta o uso de fertilizantes, com o objetivo de aumentar a eficiência e a produtividade das culturas: (i) Produto Certo: escolher a fonte de fertilizante mais adequada para o sistema de produção, a cultura, o solo e a sua capacidade de fornecimento; (ii) Dose Certa: ajustar a quantidade de fertilizante de acordo com a necessidade da cultura, o fornecimento do solo e a composição do insumo; (iii) Momento certo: sincronizar o fornecimento de nutrientes com a demanda das plantas; e (iv) Local certo: colocar os nutrientes onde são necessários e mantê-los onde as culturas possam absorvê-los do modo mais eficiente.
Minuto Rural - Quais os impactos econômicos e ambientais do uso inadequado de fertilizantes e como evitá-los?
Dr. Adriel - Quando os fertilizantes são aplicados de modo inadequados, os prejuízos são imensuráveis. Se aplicados em doses subótimas, haverá menor produtividade das culturas e diminuição da rentabilidade do agricultor. Além disso, as plantas poderão ficar subnutridas, tornando-se mais susceptíveis ao ataque de pragas e doenças e menos tolerantes aos estresses abióticos (como hídrico, térmico, luminoso etc.). Se as produtividades forem menores, isso implicará em maior demanda de terras para a agricultura produzir alimentos, madeiras, fibras, energia etc., pressionando para que ocorra diminuição das áreas destinadas à vegetação natural e outros fins ecológicos.
Por outro lado, o excesso de fertilizantes pode ocasionar:
Aumento no Custo de Produção: os fertilizantes, na maioria das culturas agrícola, representam cerca de 50% dos custos de produção. Portanto, o uso excessivo de fertilizantes impacta diretamente na receita do produtor rural.
Aumento na incidência de pragas e doenças: certos nutrientes em excessos, como o nitrogênio (N), resultam no prolongamento do ciclo vegetativo, obtenção de plantas mais tenras e susceptíveis ao acamamento. Isso leva ao aumento da incidência de pragas e doenças, aumentando (desnecessariamente) o uso de defensivos agrícolas, trazendo prejuízos agronômicos e ambientais.
Desbalanço nutricional: as concentrações de nutrientes nas plantas devem estar sempre em equilíbrio. Por exemplo, a adubação excessiva de fósforo (P), além de não ser viável economicamente, pode levar à deficiência de zinco (Zn) nas plantas, resultando em diminuição da produtividade.
Diminuição da Qualidade do Produto Final: nutrientes em excesso afetam diretamente as características do produto final. Por exemplo, o excesso de nitrogênio (N) no abacaxi pode levar à ocorrência de frutos com menor concentração de açúcares, frutos com rachadura e/ou frutos sem interesse industrial. No tomateiro, por exemplo, excesso de potássio (K) pode favorecer a deficiência de cálcio (Ca), o qual ocasiona o chamado “fundo preto no tomateiro”, sendo indesejável pelos consumidores.
Poluição Ambiental: alguns nutrientes, como nitrogênio (N) e fósforo (P), são determinantes na eutrofização de corpos d’água. O N mineral, na forma de nitrato (NO3-) apresenta alta mobilidade no solo. Quando aplicado em excesso, o NO3- facilmente atinge os corpos d’água, ocasionando eutrofização, perda de qualidade da água para fins humano e sérios impactos ambientais. O P, na forma inorgânica (como ortofosfato – H2PO4- e HPO42-), é praticamente imóvel no solo, desde que não ocorra erosão. Todavia, na forma orgânica (como presente nos estercos), e quando aplicado em quantidade excessiva, pode escoar na superfície do solo ou migrar no seu perfil, atingindo corpos d’água e ocasionando a eutrofização. Além disso, os micronutrientes cobre (Cu), manganês (Mn), molibdênio (Mo), níquel (Ni) e zinco (Zn), em altas concentrações, são considerados elementos potencialmente tóxicos (EPT) e requerem atenção para não serem transferidos demasiadamente para cadeia alimentar.
Minuto Rural - De que forma o uso eficiente de fertilizantes pode trazer economia para a propriedade agrícola?
Dr. Adriel - As BPUFs, aliadas à assistência técnica e gestão da propriedade, permite otimizar os sistemas de produção, utilizando mais eficientemente os recursos disponíveis e mitigando os riscos do negócio. As BPUFs resultam em plantas bem nutridas, as quais são mais tolerantes aos estresses bióticos (ataques de pragas e doenças) e abióticos (estresses hídrico, oxidativo e térmico). Isso, na prática, ocasiona diminuição no uso de defensivos agrícolas e otimização no uso da água pelas plantas.
Minuto Rural - Que novas tecnologias têm ajudado os produtores a utilizarem fertilizantes de forma mais eficiente e sustentável?
Dr. Adriel - Podemos agrupar as tecnologias em:
Equipamentos e softwares: nesse contexto, há inúmeros equipamentos automatizados de uso terrestre ou aéreo que permitem precisão nas aplicações e distribuição dos insumos. É possível a gestão da aplicação em tempo real, empregar técnicas e sensores de agricultura de precisão etc. Nesse contexto, a oferta é grande e plausível de ser utilizada em pequenas, médias e grandes propriedades.
Fertilizantes de eficiência aumentada: combinam tecnologias que levam ao fornecimento gradual dos nutrientes às plantas, de modo a mitigar as perdas, aumentar a eficiência de uso pelas plantas e resultar em maiores produtividades. A viabilidade desses fertilizantes depende do tipo de solo, cultivo, região, custo e tecnologia oferecida.
Nanofertilizantes: possuem formulações nanoestruturadas, que podem ser entregues às plantas de forma a permitir a absorção eficiente ou a liberação lenta dos nutrientes e outros ativos/bioativos. Alguns nanofertilizantes podem, inclusive, ser enquadrados como fertilizantes de eficiência aumentada. Outros nanofertilizantes podem ter efeitos bioestimulantes, trazendo benefícios às plantas cultivadas em situações adversas. Nesse contexto, há diversas pesquisas em andamento, buscando identificar as melhores estratégias de cultivos, solo, região etc., e oferta dessa tecnologia à preço viável.
Emprego dos conceitos agronômicos de forma correta e gestão dos bioinsumos: basicamente se refere às sequências de manejos vastamente pregados nas academias e centro de pesquisas. Depois de realizada a amostragem e análise de solo, o primeiro passo para as BPUFs é a correção adequada acidez. Há inúmeros trabalhos evidenciando que solo corrigido otimiza o uso de fertilizantes minerais, orgânicos e organominerais. Na sequência, é necessário construir o perfil do solo. Depois, balancear os macronutrientes; na sequência, os micronutrientes; e por fim, os bioestimulantes. Nesse contexto, destacam-se os inoculantes, que são bioinsumos modernos, podem aportar nitrogênio (N) no sistema de produção, otimizar o uso de fósforo (P) e potássio (K), e/ou favorecer o crescimento radicular das plantas. A combinação dessas técnicas, que são relativamente baratas e bem conhecidas, e devidamente orientadas, permite avanço expressivo na produtividade das culturas, independentemente do tamanho do negócio (pequeno, médio e grande produtor rural).
Minuto Rural - Como o evento pretende capacitar os produtores para adotar práticas de nutrição sustentável de plantas e quais os benefícios esperados para o setor?
Dr. Adriel - O evento é parte da disciplina “Nutrição de Plantas”, realizado em conjunto com empresas privadas (Calpar, ICL e Nitro), públicas (UEPG e IDR) e instituições sem fins lucrativos (AEACG, ANDA e NPV). Trata-se da primeira edição do referido evento.
Nossa equipe técnica e alunos mostrará plantas bem e má nutridas, evidenciando o papel do profissional em Agronomia na orientação do produtor rural, buscando a sustentabilidade do negócio. “Boas Práticas para Uso Eficiente de Fertilizantes e Nutrição Sustentável de Plantas” está no escopo do Nutrientes para Vida (NPV), onde a ciência, a nutrição vegetal e humana e a sustentabilidade se encontram com o fertilizante para alimentar um futuro mais brilhante. Os fertilizantes são mais do que simples insumos agrícolas: são os pilares da nutrição e sustentabilidade. Esses insumos enriquecem nossos solos, tornando-os mais férteis; fortalecem nossas plantas e, por consequência, nutrem nossas vidas – afinal, se você se alimenta, é graças aos fertilizantes. E com a crescente demanda global por alimentos nutritivos e sustentáveis, nosso trabalho se torna ainda mais relevante.