Na quarta-feira, 14 de maio, cerca de 400 participantes entre produtores rurais, pesquisadores, jornalistas, empresários e políticos reuniram-se em Brasília para o 3º Congresso da Abramilho, evento promovido pela Associação Brasileira dos Produtores de Milho e Sorgo (Abramilho).
Com foco em sustentabilidade, inovação e desafios macroeconômicos, o encontro abordou os caminhos do milho brasileiro frente às transformações globais, ressaltando seu papel na segurança alimentar, energética e no fortalecimento da economia nacional.
Pouco conhecido pelo grande público, o milho brasileiro vai muito além da lavoura e da alimentação: ele é hoje a base de uma cadeia industrial que gera mais de 700 coprodutos, entre alimentos, biocombustíveis, ração animal, cosméticos e até fármacos. Durante o congresso, especialistas e autoridades destacaram que o etanol de milho já movimenta cerca de 20 milhões de toneladas e pode mais do que dobrar nos próximos anos, impulsionando empregos, renda e sustentabilidade. O grão, que garante a segurança alimentar e energética do país, está no centro de um movimento de inovação que transforma o campo brasileiro em referência mundial de produtividade e tecnologia.
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O presidente da Abramilho, Paulo Bertolini, nos debates destacou a importância do evento para discutir as potencialidades e entraves do setor. “Falamos de um grão que vem revolucionando o mundo, tanto para a nutrição humana, animal quanto para energia. Discutimos expansão da agricultura e, principalmente, os desafios na logística pós-colheita, como armazenagem, rodovias, ferrovias, portos e industrialização no Brasil”, afirmou.
Ele reforçou o impacto da indústria do etanol de milho, que já processa cerca de 20 milhões de toneladas e deve mais que dobrar nos próximos anos, gerando estabilidade de preços e liquidez para o produtor. “Essa indústria muda o cenário nas fronteiras agrícolas e estimula o uso de boas práticas agrícolas, como biotecnologia e plantio direto.”
Bertolini também ressaltou a importância dos coprodutos da indústria do milho, como o DDG (grão seco de destilaria), altamente proteico e utilizado na alimentação animal. “É um produto valorizado, principalmente para ruminantes. Em Castro, por exemplo, a indústria da Cargill abastece confinamentos em vários estados do Brasil.”
Além disso, mencionou a diversificação industrial: “Estamos falando de mais de 700 coprodutos, que vão de produtos farmacêuticos e cosméticos, tudo a partir do milho.” E concluiu agradecendo o papel da imprensa na valorização do agro nacional.
De acordo com Bertollini, o potencial para ampliar a produção do milho não é o desafio, mas sim aumentar o volume disponível para armazenamento. “Crescemos em torno de 10 milhões de toneladas por ano na produção de grãos. Não demora muito seremos o País do milho, superando outros grãos, com o sorgo vindo junto. Com isso, precisamos mudar a lógica de armazenagem. O ideal seria seguirmos o modelo norte-americano, onde é possível armazenar mais de uma safra inteira dentro das fazendas”, observou o presidente da Abramilho.
O presidente em exercício do Brasil, Geraldo Alckmin, reforçou o papel do governo federal na viabilização de estruturas logísticas e políticas ambientais para o setor. Ele comemorou a abertura do mercado chinês para o DDG seco, produto estratégico da cadeia do etanol de milho.
“Temos quatro grandes desafios: logística, armazenagem, crédito e seguro rural. Estamos estudando medidas para o Plano Safra e o fortalecimento do seguro rural, diante das mudanças climáticas. O milho é fundamental: nutre humanos e animais, gera energia, bioeletricidade e ainda combate as mudanças climáticas com créditos de carbono.”
Sobre infraestrutura, Alckmin defendeu a Ferrogrão como solução estratégica para escoamento da produção pelo Arco Norte. “A integração modal é essencial. Fiz a BR-163 de carro, é uma epopeia. Precisamos de ferrovia, rodovia e hidrovia conectadas para reduzir custo, aumentar competitividade e preservar o meio ambiente.”
Ao encerrar sua fala, o presidente ainda brincou: “Como médico, recomendo milho, cural, pamonha, milho cozido... é o melhor alcalinizante!”
O membro da diretoria da Abramilho, Eduardo Medeiros, destacou a relevância do milho na rotação de culturas, sustentabilidade do solo e segurança alimentar. “É uma cultura fundamental para a renda do produtor e para o país. A produção evoluiu de menos de 100 para 130 milhões de toneladas, sustentando o campo e a economia.”
Segundo ele, eventos como o congresso são essenciais para conectar ciência e produção agrícola. “Aqui estão os maiores especialistas, trazendo conhecimento e tecnologia que melhoram o desempenho do setor e o bem-estar da população.”
O presidente da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), Ronaldo Troncha, abordou a inovação no setor de sementes e sua integração com o cenário global.
“As sementes hoje possuem tanta tecnologia quanto um chip. Trabalhamos constantemente para aprimorar legislações nacionais e nos alinhamos com entidades internacionais como a ISF e a SAA. O Congresso Internacional de Sementes, que será realizado entre 29 de setembro e 1º de outubro, em Foz do Iguaçu, é reflexo desse esforço.”
Troncha enfatizou o rigor técnico na produção de sementes: “Hoje, muitas associações só comercializam sementes com vigor acima de 90%. Há investimentos sérios em laboratórios e certificações como o WISTA. Isso garante ao agricultor sementes com alta produtividade.”
Ele também destacou o desenvolvimento do milho Short Corn, de estatura menor e maior resistência ao acamamento, ideal para regiões de eventos climáticos extremos. “Esse tipo de inovação é o futuro da produção. O Brasil tem hoje 59 projetos de plantas de etanol de milho até 2027. Isso gera empregos, renda, proteína animal e crescimento sustentável.”
O congresso demonstrou como o milho ocupa posição central nos grandes debates globais: segurança alimentar, segurança energética e combate às mudanças climáticas. O evento reforçou a necessidade de políticas públicas alinhadas à inovação tecnológica e à sustentabilidade, destacando a capacidade do agronegócio brasileiro de liderar com responsabilidade e eficiência.
A defesa da Ferrogrão, os avanços nas sementes tecnológicas, o mercado de DDG e o papel do milho na matriz energética nacional mostraram que o setor é estratégico não apenas para o campo, mas para toda a sociedade.