Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que apenas cerca de 5% dos municípios do Brasil concentram quase 80% do valor adicionado pela indústria nacional, refletindo a fragilidade da expansão industrial no país.
A industrialização no Brasil é amplamente concentrada em algumas regiões, principalmente no Sudeste, com destaque para os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), São Paulo sozinho responde por cerca de 30% do valor total da produção industrial do país, com setores como automotivo, bens de capital e química sendo predominantes.
O contraste é marcante quando se observa a situação de outras regiões. No Norte e no Nordeste, por exemplo, a participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) regional é significativamente menor. Estima-se que, no Nordeste, o setor industrial representa menos de 15% do PIB, enquanto no Norte esse número fica abaixo de 10%. Essa desigualdade reflete a falta de políticas de incentivo e infraestrutura adequada para o desenvolvimento industrial em regiões menos favorecidas.
Um dos principais obstáculos à industrialização de municípios brasileiros fora das áreas tradicionais é a infraestrutura precária. Muitas cidades do interior, principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, enfrentam problemas como a falta de rodovias pavimentadas, ferrovias e sistemas portuários eficientes. Essa deficiência logística aumenta os custos de produção e transporte, tornando a operação industrial inviável em muitos municípios.
O chamado "Custo Brasil" — que inclui altos custos logísticos, carga tributária elevada e burocracia excessiva — é outro fator que inibe a expansão industrial. Segundo estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), o Custo Brasil adiciona, em média, 20% ao preço final dos produtos industrializados, prejudicando a competitividade do setor no mercado interno e externo. A consequência é que muitas empresas optam por se estabelecer em grandes centros urbanos, onde a infraestrutura é mais desenvolvida e os incentivos fiscais são mais acessíveis.
A ausência de políticas públicas eficazes para promover a descentralização industrial também é um problema crônico. Enquanto algumas regiões, como o Sudeste e Sul, se beneficiam de políticas de incentivo fiscal, subsídios e investimentos em infraestrutura, outras áreas permanecem marginalizadas. Um exemplo é a Zona Franca de Manaus, no Amazonas, que se destaca como uma exceção no Norte do país, mas cuja dependência excessiva de incentivos fiscais levanta questionamentos sobre sua sustentabilidade a longo prazo.
Além disso, muitos municípios menores não têm acesso a recursos para desenvolver projetos industriais de médio e longo prazo. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), principal financiador de projetos industriais no Brasil, canaliza a maior parte de seus recursos para grandes empresas e projetos localizados nas áreas mais desenvolvidas do país. Isso cria um ciclo de concentração, onde os municípios menores e menos industrializados têm pouca chance de atrair investimentos significativos.
Outro fator que limita a industrialização nos municípios brasileiros é a predominância de setores de baixa tecnologia ou atividades de transformação primária, como a produção de alimentos e a manufatura de produtos agrícolas. Embora esses setores desempenhem um papel importante em algumas regiões, eles oferecem menos oportunidades de desenvolvimento tecnológico e inovação, fatores críticos para o crescimento industrial sustentável.
A baixa qualificação da mão de obra local é outro desafio significativo. Dados do IBGE mostram que muitos municípios carecem de trabalhadores qualificados, especialmente em áreas técnicas e de engenharia, o que impede o avanço de setores mais sofisticados da indústria, como tecnologia, automação e eletrônicos. A falta de investimento em educação técnica e superior, especialmente em regiões menos desenvolvidas, limita as oportunidades de geração de empregos de alta qualidade.
A fraca industrialização em grande parte dos municípios brasileiros gera uma série de consequências econômicas e sociais.
“A dependência de setores primários, como a agricultura e o extrativismo, mantém muitas cidades vulneráveis às oscilações dos preços das commodities, o que prejudica a estabilidade econômica. Além disso, a ausência de uma base industrial forte reduz as oportunidades de emprego e perpetua a desigualdade social e regional.”
A concentração industrial em poucas áreas também acentua o êxodo rural e o crescimento desordenado dos grandes centros urbanos. Municípios que não conseguem desenvolver uma base industrial sólida veem suas populações migrar para cidades maiores em busca de melhores oportunidades de emprego, o que pressiona ainda mais a infraestrutura e os serviços públicos nas grandes metrópoles.
A fraca industrialização da maioria dos municípios brasileiros é um reflexo das desigualdades regionais e dos desafios estruturais que o país enfrenta. Embora o Brasil tenha avançado no desenvolvimento de alguns setores industriais, a concentração em poucas regiões e a falta de infraestrutura, incentivos e mão de obra qualificada dificultam o crescimento em áreas mais afastadas dos grandes centros econômicos.
Para promover um desenvolvimento mais equilibrado e inclusivo, é fundamental que o país invista em políticas públicas que incentivem a industrialização de regiões menos desenvolvidas, com foco em infraestrutura, inovação e qualificação profissional.