No evento Pulse Day Campos Gerais - Feijão, realizado em 28 de novembro, no Moinho Castrolanda em Castro, no Paraná, especialistas do agronegócio destacaram inovações e perspectivas para o mercado de feijão. Com foco nas novas cultivares e nas oportunidades de exportação, o encontro reuniu produtores, pesquisadores e empresários, reforçando a importância estratégica da cultura do feijão na região dos Campos Gerais, responsável por cerca de 25% da produção nacional.
O encontro trouxe luz às novas tendências e soluções tecnológicas para os produtores de feijão, além disso, foi o palco para o anúncio de uma cultivar inédita de feijão preto, a IPR Tapicuru, pelo IDR-Paraná, destacando o potencial de inovação no setor.
O evento é uma promoção do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe) em parceria com o Nucleo Sindical dos Campos Gerais e conta com patrocínio da Castrolanda, Frísia, Fundação ABC, Mingote Cereais, Sementes Aliança, Arbaza, Colombo, Sintese Agroscience e apoio dos Institutos de Pesquisa, IDR- Paraná, Embrapa e IAC.
O presidente do Ibrafe, Marcelo Eduardo Lüders, apresentou um panorama detalhado sobre o cenário atual e as perspectivas para o mercado de feijão. Ele começou destacando a importância estratégica do Paraná, que responde por aproximadamente 25% da produção nacional do grão.
“O Paraná é fundamental para o abastecimento de feijão no Brasil. A região tem uma vocação natural para a cultura, mas nos últimos anos vimos uma redução na área plantada. Agora, com inovações, novas sementes e mercados internacionais se abrindo, temos a oportunidade de retomar e até expandir essa produção.”, salienta Marcelo.
Lüders abordou o impacto das exportações de feijão preto, um marco recente no setor. Segundo ele, a mudança no comportamento dos grandes players internacionais criou uma janela única para o Brasil. “A China, que antes exportava feijão para o Brasil e outros países, praticamente saiu do mercado. Ao mesmo tempo, tivemos quebras de safra significativas no México, o que abriu espaço para o Brasil se consolidar como fornecedor. Essa situação deve se manter, pelo menos até 2030, e o Paraná pode liderar esse movimento.”, acredita.
O presidente do Ibrafe reforçou que o mercado internacional não se limita ao México. “Além do México, temos demanda crescente de países como Venezuela, Costa Rica e Guatemala. A diversificação dos mercados é fundamental para garantir que os produtores brasileiros tenham segurança e previsibilidade.”, afirma.
Outro ponto importante levantado por Lüders foi a necessidade de disseminar informações sobre a cultura do feijão, algo que ainda é escasso quando comparado a outras commodities como soja e milho. “Se você procurar no Google sobre soja ou milho, encontrará uma infinidade de informações. Com o feijão, isso não acontece. Por isso, o Ibrafe tem investido fortemente em eventos como o Pulse Day e na produção de conteúdo técnico para apoiar o produtor.” revela o presidente.
Ele também destacou a importância de unir todos os elos da cadeia produtiva, desde a pesquisa até o mercado. “O produtor precisa ter acesso a informações técnicas, mas também entender o mercado. Por isso, trouxemos para este evento não apenas as maiores sementeiras, mas também os principais exportadores. É essencial que o produtor saiba onde investir e se haverá demanda para seu produto.”
Lüders encerrou sua fala com uma mensagem de otimismo.“Estamos vivendo um momento de oportunidades. Com tecnologia, informação e estratégia, o Brasil pode assumir um papel de liderança no mercado global do feijão. O Paraná, sem dúvida, será protagonista nesse cenário.”
Gustavo Ribas Netto, presidente do Núcleo Sindical Rural dos Campos Gerais, enfatizou que o evento é uma oportunidade não apenas para atualização técnica, mas também para abrir novos mercados. Segundo ele, a exportação é o caminho para alavancar a produção local. “Precisamos ampliar o espaço do feijão, tanto na mesa do brasileiro quanto no mercado externo. O Pulse Day é o momento de conhecer novas variedades, entender o mercado e melhorar a sanidade das lavouras e assim aprimorar o rendimento do agricultor", ressalta o Gustavo.
Para Eduardo Gomes Medeiros, presidente do Sindicato Rural de Castro, a importância do feijão vai além de sua rentabilidade. Ele é uma solução para otimizar a rotação de culturas, especialmente em regiões onde não é viável plantar milho duas vezes ao ano.
“O feijão encaixa perfeitamente nos sistemas de produção aqui dos Campos Gerais. Ele possibilita a combinação de milho e feijão ou mesmo uma safra exclusiva, trazendo flexibilidade e maior rentabilidade para o produtor.”, avalia Eduardo.
Já Luís Henrique Penckowski, diretor da Fundação ABC, frisou que eventos como o Pulse Day são essenciais para discutir os desafios de manejo e sustentabilidade. Além do feijão, ele mencionou o potencial de outras leguminosas para diversificar a produção. “A troca de informações entre pesquisadores e produtores é fundamental. Precisamos discutir desde o manejo até as exigências do mercado, sempre com foco na sustentabilidade, portanto, evento assim, onde conseguimos reunir todo os elos da cadeia é muito importante”, destaca Penckowski.
O Sicredi tem uma longa história de apoio ao agronegócio e o gerente do Sicredi Castrolanda, Diony Edmundo Gonçalves, ressaltou a importância de eventos como o Pulse Day para fortalecer o vínculo entre o setor financeiro e os produtores. “O feijão é fundamental para a economia da região e o Sicredi está aqui para apoiar o produtor com crédito e soluções financeiras que garantam o sucesso das lavouras.”, comentou.
Já o empresário da Mingote Cereais, Domingos Garcia Filho a região por conta de um evento deste volta a ser protagonista, tanto que celebrou o resgate da importância do feijão na região e destacou o papel do Pulse Day em reposicionar a cultura no cenário nacional.
“Sempre vivemos do feijão, e eventos como este são essenciais para dar visibilidade ao nosso trabalho. O produtor precisa de informação e inovação para garantir a rentabilidade e sustentabilidade em suas lavouras.”, argumenta o empresário.
Visão do Agricultor - O agricultor Edmilson Roberto Rickli, de Prudentópolis, trouxe uma perspectiva prática sobre a importância do feijão na rotação de culturas e na geração de renda para o pequeno e médio agricultor. Rickli destacou que, em sua propriedade, o feijão tem papel estratégico tanto na safra das águas quanto na safrinha.“Plantamos tanto feijão carioca quanto feijão preto. O carioca vai bem nas águas, enquanto o preto é mais usado na safrinha, após o milho. Isso ajuda a diversificar e a garantir uma renda extra, especialmente em anos de preço bom.”
Para Rickli, o grande destaque do evento foi a apresentação da nova cultivar IPR Tapicuru, que promete trazer vantagens tanto no manejo quanto na produtividade.“Essas novas variedades são fundamentais. Quando uma cultivar tem resistência a doenças, isso facilita muito o manejo. Além disso, variedades com maior potencial produtivo garantem uma melhor rentabilidade. A IPR Tapicuru, pelo que foi apresentado, parece ser uma ótima opção.”
O produtor também ressaltou a importância de eventos como o Pulse Day para a atualização técnica e o acesso a informações de mercado. “A gente vem a esses eventos para aprender. É aqui que conhecemos novas pesquisas, técnicas de manejo e o que está acontecendo no mercado. Isso nos ajuda a tomar decisões mais seguras.”, argumenta.
Nova variedade de feijão promete revolucionar a produção nos Campos Gerais. A engenheira agrônoma Vania Moda Cirino, do IDR-Paraná, apresentou durante o Pulse Day a cultivar IPR Tapicuru, destacando maior produtividade, resistência a doenças e potencial de mercado. A novidade, que chega ao mercado em março, representa um marco na pesquisa e desenvolvimento de feijão no Brasil.
No auge do Pulse Day Campos Gerais, uma apresentação despertou grande interesse: a engenheira agrônoma e diretora de Pesquisa do IDR-Paraná, Vania Moda Cirino, revelou pela primeira vez ao público a nova cultivar de feijão preto IPR Tapicuru. Com entusiasmo, Vania detalhou as vantagens dessa variedade que promete ser um marco na produção de feijão preto no Brasil.
“A IPR Tapicuru é uma evolução em relação à cultivar IPR Urutau, amplamente plantada hoje. Ela oferece maior produtividade e estabilidade, aliando características agronômicas que beneficiam o produtor e o mercado. O que mais chama atenção é sua resistência às principais doenças da região e seu porte ereto, que facilita a colheita mecanizada”, explicou Cirino.
Além do desempenho no campo, a cultivar traz uma vantagem significativa no mercado: alto valor comercial. Vania destacou que a variedade é especialmente atraente para produtores que buscam segurança e competitividade. “Estamos falando de uma cultivar que não apenas mantém a qualidade do grão, mas também melhora a logística do produtor. Isso significa maior lucratividade, menos perdas e mais eficiência.”, acredita.
O lançamento oficial está previsto para março, mas o anúncio já trouxe expectativas. A pesquisadora lembrou que o desenvolvimento de novas variedades faz parte da estratégia de longo prazo do IDR-Paraná. “A inovação é o caminho para o fortalecimento do agronegócio. Precisamos de cultivares que atendam às demandas dos produtores e do mercado internacional. Com a IPR Tapicuru, damos um passo importante nesse sentido.”, revela.
Já o pesquisador José Luis Cabrera Diaz, da Embrapa Arroz e Feijão, trouxe insights detalhados sobre o desenvolvimento de cultivares adaptadas ao clima dos Campos Gerais. Sua fala centrou-se no ciclo curto dessas variedades, um aspecto essencial para maximizar a produtividade e minimizar riscos climáticos. “A grande vantagem das cultivares de ciclo curto é que elas podem ser colhidas em cerca de 70 dias. Isso é um ganho estratégico, especialmente em regiões onde o clima pode ser um desafio no final da safra. Retirar o feijão do campo mais cedo reduz riscos e garante maior eficiência.”, revela
Cabrera destacou que a Embrapa tem investido em cultivares como o BRS FC104 e o BRS 327, adaptados tanto para a colheita mecanizada quanto para o mercado internacional. “Essas variedades têm arquitetura ereta e resistência a doenças, o que facilita a mecanização e melhora a qualidade do grão. Isso é fundamental para a competitividade no mercado externo.”, conta.
O pesquisador também enfatizou a importância de diversificar as cultivares plantadas para atender diferentes nichos de mercado: “Além dos feijões carioca e preto, há espaço para os chamados feijões especiais, que têm alto valor agregado e são demandados por mercados como Europa e Oriente Médio. Estamos falando de um mercado em expansão que o Brasil precisa explorar melhor.”, acredita Cabrera.
Hélio Antonio Wood Joris, pesquisador da Fundação ABC, reforçou que a produtividade do feijão não depende apenas da genética das sementes, mas também do manejo adequado. Ele abordou os principais fatores que limitam o desempenho das lavouras e deu dicas práticas para os produtores. “O feijão é uma cultura sensível e de ciclo curto. Isso significa que qualquer erro no manejo pode comprometer a produtividade. É fundamental cuidar da fertilidade do solo e garantir que a planta tenha acesso a todos os nutrientes necessários.”, avalia
Joris explicou que a adubação correta e o controle rigoroso de pragas e doenças são determinantes para alcançar altas produtividades.“O solo precisa estar bem estruturado para que o sistema radicular do feijão se desenvolva. Além disso, é essencial monitorar constantemente o campo para identificar pragas e doenças precocemente. A aplicação no momento certo faz toda a diferença.”, recomenda o pesquisador.
Ele também apresentou resultados de ensaios realizados com diferentes técnicas de manejo.“Nos experimentos, conseguimos alcançar produtividades superiores a 4.000 kg por hectare. Isso é viável para o produtor que segue as recomendações técnicas e faz um manejo detalhado. O segredo está no capricho em cada etapa do processo.”revela o pesquisador.
O COO da Arbaza Alimentos, Eduardo Balestreri, trouxe uma visão abrangente sobre o cenário global do feijão, com foco no feijão preto. Ele explicou como o Brasil passou de importador a exportador e destacou os desafios e oportunidades desse novo contexto. “O Brasil exportou cerca de 76 mil toneladas de feijão preto neste ano. Isso é histórico e mostra o potencial do país para se firmar como um grande player no mercado internacional.” destaca Eduardo
Balestreri apontou que a demanda internacional pelo feijão preto brasileiro foi impulsionada por problemas climáticos em países concorrentes, como México e Argentina. “Tivemos uma combinação de fatores favoráveis: quebras de safra nos concorrentes e uma demanda crescente em países da América Central e do Caribe. O desafio agora é manter essa posição, investindo em qualidade e logística.”, acredita o empresário
Sobre o futuro das exportações, ele foi otimista, mas cauteloso. “O cenário climático global continuará influenciando a oferta de feijão. O Brasil precisa estar preparado para aproveitar essas oportunidades, mas também diversificar seus mercados e investir em tecnologia para garantir um produto competitivo.", fala confiante.
A cultura do feijão vive um momento de transformação, impulsionado pela inovação e pela abertura de mercados. A nova cultivar IPR Tapicuru simboliza essa evolução, oferecendo aos produtores uma ferramenta poderosa para aumentar a produtividade e explorar novos nichos.
O evento evidenciou a importância do manejo correto, da diversificação de cultivares e do alinhamento com as exigências do mercado nacional e internacional. Com informação, tecnologia e parcerias estratégicas, o Brasil tem tudo para se consolidar como líder global na produção de feijão.