Um dos idealizadores da Fundação ABC e responsáveis pela difusão do plantio direto na palha em solo brasileiro, o holandês Hans Peeten visitou a fábrica da Granfinale Sistemas Agrícolas e a mina da Calpar Calcário Agrícola, empresas do Grupo Calpar, na última sexta-feira (1º) e destacou o papel fundamental do calcário agrícola para a expansão e sucesso da agricultura da região dos Campos Gerais do Paraná.
“Toda a história do desenvolvimento da região começa com o calcário. Sem isso, não teria agricultura aqui. Fico feliz em ter essa oportunidade de conhecer a mina”, afirmou o pesquisador.
Peeten conheceu a linha de produção da indústria de equipamentos para secagem, classificação, transporte e armazenagem de grãos Granfinale e ressaltou a importância de a empresa valorizar a mão-de-obra no processo de transformação da matéria-prima em produtos que contribuem para a evolução do agro no país. Em seguida, ele esteve na mina da Calpar, maior mineradora de calcário agrícola dolomítico do Brasil, fundada em 1968.
“Vocês estão no primeiro mundo e se tivesse escala mais alta, estariam na escala mais alta. A produção agrícola triplicou por hectare, duplicou no mínimo, nas últimas décadas. Hoje, a região é um cartão de visitas. É uma paisagem fantástica, conservada, limpa, de alta produtividade, com o produtor animado. Tomara que a política de vez em quando ajude”,
disse o pesquisador, que morou no Brasil por 15 anos, a partir de 1974, e voltou a viver na Holanda, atuando também como consultor na área de cultivo de batata em países da África e até na Rússia.
Para o anfitrião Paulo Bertolini, diretor comercial do Grupo Calpar, a visita de Peeten foi um presente especial. “Precisamos agradecer por seu trabalho de uma vida inteira, não só pelo Brasil, mas para o mundo todo. Agradecer por sua dedicação, seu desprendimento de uma vida particular mais tranquila para se incomodar com o problema dos outros, ao trazer soluções para uma agricultura sustentável. Ele fez da sua vida essa missão”, enfatizou.
Peeten está em Castro para participar da celebração dos 40 anos da Fundação ABC, instituição particular sem fins lucrativos que realiza pesquisa aplicada para desenvolver e adaptar novas tecnologias para mais de 5 mil produtores rurais filiados das Cooperativas Frísia (Carambeí), Castrolanda (Castro) e Capal (Arapoti), além de agricultores contribuintes de outras três cooperativas do Paraná e Goiás.
Segundo o pioneiro, que ajudou a implantar o sistema de plantio direto na palha no Brasil, modo mais sustentável e que dispensa o arado no solo, é uma alegria retornar aqui e ver a beleza da região e a potência que se tornou.
“Além de ser produtiva, está se tornando uma região turística. O que ainda falta é uma maior atenção para as estradas para escoar a produção. É uma coisa que eu não entendo. A Holanda que é o segundo maior exportador de produção agrícola do mundo e só funciona por causa da infraestrutura. O diamante agrícola é a pesquisa, a extensão, a assistência técnica e esse trabalho deve ser feito junto pelo governo e o produtor”,
apontou, ressaltando que a área agrícola da Holanda é praticamente igual à área que a Fundação ABC atende, cerca de 650 a 700 mil hectares.
Segundo a Federação Brasileira do Plantio Direto, estima-se que atualmente mais de 90% das áreas agricultáveis do Brasil adotam a técnica trazida por Peeten. “Tive a felicidade de encontrar aqui na região produtores que queriam avançar, melhorar a situação. Isso trouxe um ânimo. Em 1977, conseguimos compor um grupo das cooperativas ABC e também de Guarapuava, de Ponta Grossa, da Coopagrícola e de Holambra 2 para uma viagem técnica. Fiz questão de levar gente também do Iapar, da Acarpa para os Estados Unidos e os produtores voltaram com confiança. Era necessário olhar para fora, abrir os horizontes”, relembra.
De acordo com o pesquisador, o solo brasileiro estava se degradando.
“A erosão era uma vergonha. A paisagem estava se perdendo e a produção regredindo. Eu já estava trabalhando no plantio direto na Holanda, em solos arenosos, contra a ação do vento. Então surgiu a oportunidade e o pessoal das três cooperativas me contratou”, conta.
O resultado, segundo ele, foi revolucionário e agora é referência para o mundo. “Quem tem palha em cima deste solo tropical, tem produção”, comemora Peeten, que ficou responsável pela parte técnica dentro da Fundação, junto com equipes das três cooperativas, implementando a pesquisa em parceria com as instituições governamentais e empresas, adaptando inclusive as máquinas que na época não eram apropriadas para o novo modelo de cultivo. “Tive a oportunidade de levar a primeira máquina na Toyota para fazer os primeiros testes para o plantio direto”, pontua.
Agora passeando, desfrutando da aposentadoria, o pesquisador ainda vê oportunidade de expansão no agro regional. “Tem potencial sobrando aqui. O desafio é a genética, a tecnologia, a mão-de-obra. Precisamos treinar mão-de-obra e incentivar o jovem a permanecer no campo”, diz, refletindo sobre os desafios para que a região aumente ainda mais sua produtividade.