Desde outubro de 2024, o mercado de Feijão no Brasil conta com uma nova ferramenta de transparência - a cotação diária dos preços dos Feijões carioca e preto, divulgada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). O objetivo é oferecer informações mais precisas e atualizadas aos agentes da cadeia produtiva, permitindo ajustes de estratégias de compra e venda com base em dados confiáveis.
De acordo com o professor da Esalq e pesquisador do Cepea Lucílio Alves, a necessidade de maior transparência e acessibilidade a informações de preço no setor do Feijão se reflete em uma busca do setor por reduzir assimetrias de informação, um problema que afeta a competitividade da cadeia.
"Há um interesse da cadeia produtiva em ter informações públicas sobre preços de comercialização. Talvez entre as grandes cadeias produtivas do agronegócio brasileiro, o Feijão seja uma das poucas que não tinha uma referência clara sobre preços médios", explica Alves. Essa lacuna impulsionou parcerias, levando o Cepea a desenvolver uma metodologia rigorosa para a coleta e análise de dados de preço.
Coleta e análise de dados
Desde abril de 2024, equipes do Cepea e da CNA trabalham em campo para compilar informações de preços diretamente com produtores, cooperativas e cerealistas. A divulgação dos preços é feita com base nas cotações de sacas de 60 kg de Feijão armazenadas em municípios dos principais estados produtores, como Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e oeste da Bahia. A metodologia de análise inclui o uso de parâmetros estatísticos como desvio-padrão e coeficiente de variação para garantir a precisão dos valores, os quais são apresentados sem o ICMS.
Segundo o pesquisador, a informação pública diária permitirá que cada agente envolvido, independentemente do tamanho do negócio, tenha uma visão mais clara da rentabilidade de sua atividade.
"A partir do momento em que você tem informações públicas, isso vai reduzindo a assimetria de dados e contribuindo para que cada um dos agentes possa avaliar a rentabilidade do seu negócio e tomar decisões sobre compras e vendas", destaca. Ele observa que o acesso contínuo a esses dados pode ainda ser usado para orientar decisões mais estratégicas no futuro, incluindo ações de representação junto ao setor público.
Impacto no setor e desafios futuros
Alves acredita que a transparência trazida pela divulgação dos preços beneficia toda a cadeia do Feijão ao facilitar decisões no curto e no longo prazo, ajudando na identificação de períodos mais favoráveis para negociação e ampliando o entendimento sobre a dinâmica do mercado. No entanto, ele enfatiza que os preços médios não terão impacto direto na área de plantio. "O aumento ou redução de área está relacionado efetivamente à rentabilidade; o produtor toma sua decisão com base na sua expectativa de ganhos", esclarece. Para ele, embora o indicador ofereça informações valiosas sobre a rentabilidade, a decisão de plantio segue diretamente ligada às perspectivas de retorno financeiro.
Alves vê no aumento da demanda interna e na expansão para o mercado externo os principais desafios do setor. “A gente precisa aumentar a demanda por Feijão no mercado interno e externo e identificar onde pode estar a grande capacidade de incrementar essa demanda”. Ele ressalta que o fortalecimento da cadeia passa também pelo incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento de sistemas de produção mais eficientes e pela promoção dos benefícios nutricionais do Feijão.
Uma luta do IBRAFE
A divulgação das cotações diárias do mercado de Feijão é uma demanda antiga do Instituto Brasileiro do Feijão, Pulses e Colheitas Especiais (IBRAFE), que criou em 2017 o Preço Nacional do Feijão (PNF) com o objetivo de fornecer um indicador confiável para as variações de preços do Feijão no Brasil.
“Defendemos esse referencial há muito tempo e apoiamos totalmente essa iniciativa. São instituições confiáveis, com experiência em dados e que irão contribuir significativamente para o compartilhamento de informações de mercado, tão importantes para a nossa cadeia produtiva”, declarou o presidente do IBRAFE, Marcelo Eduardo Lüders.
A partir de agora, o PNF ganha um aliado de peso, fundamental para organizar a cadeia produtiva do Feijão e criar uma estabilidade positiva nos preços.Lüders acrescenta que “a coleta de informações regionalizadas sobre os preços do Feijão ajuda os produtores a avaliar se os preços vigentes são suficientes para cobrir seus custos e gerar lucros. Essa transparência é crucial para decisões sobre venda, exportação ou estocagem do produto.
O IBRAFE também acredita que essas informações podem incentivar o desenvolvimento de novas variedades de Feijão, contribuindo para aumentos na produtividade e na qualidade do produto, além de embasar políticas públicas que considerem as características regionais do cultivo do Feijão, promovendo um entendimento mais profundo das dinâmicas do mercado e das necessidades dos produtores.
“Com esse novo panorama de transparência e dados diários, produtores, cooperativas e consumidores estarão mais conectados à realidade do mercado, contribuindo para uma cadeia de Feijão mais forte e competitiva no Brasil e no exterior”, finaliza o presidente do IBRAFE.