A família Beger sempre cultivou morangos de forma ecologicamente correta, de acordo com o que preconizam as boas práticas agropecuárias. Agora, todo esse cuidado tem chancela oficial. A propriedade da família, a Só Morangos, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), foi a primeira a receber um selo, em um programa de certificação da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), em parceria com o Sistema FAEP. Outros sete fruticultores também já foram certificados. Além disso, mais de 30 produtores se inscrevam para fazer parte do programa.
“Esse selo diferencia o produto, atestando ao consumidor que foi produzido de acordo com protocolo de boas práticas de produção e de fiscalização. É um produto mais seguro”, resume o engenheiro agrônomo Juliano Farináceo Galhardo, da Adapar, responsável pelo programa de certificação.
Para participar do programa, o fruticultor precisa indicar um responsável técnico – com formação como engenheiro agrônomo, técnico agrícola ou similar –, que acompanhe a produção na propriedade. Esse profissional precisa fazer um curso de formação, desenvolvido pela Adapar. Paralelamente, o produtor rural também precisa passar por capacitação, concluindo quatro cursos específicos ofertados pelo Sistema FAEP, que proporcionam uma produção ambientalmente sustentável, com monitoramento constante de pragas e doenças.
“Os cursos foram desenvolvidos especificamente para o cultivo de morangos, visando a redução do uso de agroquímicos e preconizando boas práticas no cultivo. Com isso, os participantes terão uma produção sustentável e um produto muito melhor para o consumidor”, observa a técnica Vanessa Reinhart, do Departamento Técnico (Detec) do Sistema FAEP.
As capacitações em questão são Manejo Integrado de Pragas (MIP) e Manejo Integrado de Doenças (MID) no morango, que orientam o produtor a identificar, a partir de um conjunto de técnicas de monitoramento, insetos e moléstias que podem prejudicar as plantas. Além disso, o fruticultor também precisa passar por um curso de boas práticas e de aplicação de agrotóxicos. “Cumprindo o que estabelecem essas capacitações, os produtores terão uma produção bem mais racional e de acordo com protocolos. Terá uma produção de excelência”, reforça Vanessa.
Depois de concluir os cursos, o produtor passa a aplicar o conhecimento adquirido em sua propriedade, sob orientação do responsável técnico. A cada três meses, a Adapar fiscaliza a propriedade, a fim de verificar o cumprimento dos protocolos de produção. Em seguida, no período da colheita, o órgão estadual coleta amostras do morango produzido, que passam por análises que vão aferir que as frutas estão dentro dos parâmetros preconizados pelas boas práticas, no que diz respeito aos resíduos de agroquímicos.
“Estando tudo conforme, é liberado um selo certificando a produção”, aponta Galhardo. “Esse selo garante ao consumidor que se trata de um produto que obedeceu aos protocolos e que passou por uma fiscalização rigorosa”, acrescenta.
O morango foi escolhido para ser o primeiro produto a ter certificação pelas particularidades da produção. Ao mesmo tempo em que estão com frutos, as plantas têm, simultaneamente, crescimento vegetativo e flores. Por isso, é um tipo de cultivo sensível, que exige aplicação de defensivos apropriados e produtos biológicos para o controle de pragas e doenças.
A Região Metropolitana de Curitiba lidera a produção da fruta no Paraná. São José dos Pinhais é o principal produtor. Segundo os dados preliminares do Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP), do Departamento de Economia Rural (Deral), o município colheu cerca de 3,5 mil toneladas de morango em 2023, gerando uma renda de R$ 52,73 milhões para os agricultores.
No caso da Só Morangos – a propriedade da família Beger –, o processo de certificação durou pouco mais de um ano, de abril de 2023 a maio deste ano. O cultivo é conduzido pela engenheira agrônoma Giovana Beger, que representa a quarta geração de fruticultores da família e é a responsável técnica pela propriedade. Desde 1999 estabelecidos em São José dos Pinhais, os Beger já produziam de acordo com as boas práticas. “Meu pai sempre fez o cultivo de forma ecologicamente correta, com o uso criterioso de produtos químicos, sempre procurando adotar outras formas de controle”, conta Giovana.
Até em razão disso, a família precisou fazer poucas mudanças no dia a dia da propriedade, para obter a certificação. “Estruturalmente, não teve o que arrumar. A gente só precisou ajustar o caderno de campo, com anotações de tudo que fazemos na propriedade, e trocar o armário de defensivos, que era de madeira e precisa ser de metal”, ressalta Giovana.
A certificação abre caminho para potencializar o modelo produtivo da família, focado em qualidade. Com o selo, a Só Morangos já consegue um preço melhor pelo produto. Segundo Giovana, a certificação atraiu a atenção de consumidores e de outros produtores, que também manifestaram intenção de obter a certificação.
“Vamos fazer uma divulgação ampla nas nossas redes sociais. É importante para os consumidores saberem que existem opções de morangos seguros, cultivados de forma racional”, aponta Giovana.
Com produção média de 27 toneladas por ano, a Só Morangos foca na venda direta ao consumidor e no sistema “colha e pague” – no qual visitantes podem ir às estufas e pegar o próprio morango. Além disso, a empresa também tem uma loja, em que a família vende produtos como geleias e doces feitos na propriedade, em espaço inspecionado e regularizado. “A gente quer fazer novas experiências e expandir o negócio de turismo rural, a partir dos morangos. O selo faz bastante diferença”, aponta.
Em março deste ano, a Adapar publicou a Portaria 82/2024, que estabelece os procedimentos para a certificação da produção de produtos de origem vegetal no Paraná. Essa regulamentação abre precedente para a expansão do selo para outras culturas. A próxima atividade a fazer parte do programa de certificação é a citricultura, mais especificamente laranja.
“Oito propriedades formalizaram interesse em participação da certificação. Eles já adotam as boas práticas em suas propriedades. Estamos na fase de disponibilizar os cursos, em parceria com o Sistema FAEP”, ressalta o engenheiro agrônomo Juliano Galhardo, da Adapar.
Desde o ano passado, 105 propriedades rurais voltadas à olericultura são atendidas pelo programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) do Sistema FAEP, em um projeto-piloto levado a campo. A partir da iniciativa, os produtores recebem visitas mensais de um técnico de campo, que presta consultoria individualizada, focada na realidade da propriedade rural em questão.
A partir de 2025, a ATeG será expandida para dez municípios de diferentes regiões do Paraná, contemplando outras atividades agropecuárias.
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