A cultura tropeira ganhou destaque em Piraí do Sul com o V Encontro Tropeiro, organizado pelo Grupo Os Tropeiros Nativos. Realizado em 30 de junho, o evento celebrou o Dia do Tropeiro, homenageando os heróis anônimos que marcaram a história de várias regiões do Paraná, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
A programação começou às 10h na antiga Estação Ferroviária de Piraí do Sul, marco histórico da cidade e do tropeirismo. Um café da manhã tradicional foi servido na estação, com virado de feijão, paçoca de carne, café tropeiro e outras especialidades da culinária local.
Cavaleiros e amazonas seguiram pelas principais ruas da cidade em direção ao Santuário Diocesano de Nossa Senhora das Brotas, padroeira dos tropeiros e protetora agropecuária e do município. O Santuário também marca o início da Rota do Rosário, uma importante rota de turismo religioso no Paraná.
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João Carlos da Silva Filho, conhecido como Joãozinho Tropeiro, é o coordenador do Grupo Os Tropeiros Nativos de Piraí do Sul. Ele ressalta a importância do evento para o tropeirismo local e regional: “A importância desse evento é enorme para manter viva a nossa tradição. Por mais um ano, estamos concretizando isso e vemos que as crianças, tanto do município quanto de fora, estão sendo influenciadas. Estamos plantando hoje a sementinha do tropeirismo no coração dessas crianças, porque no futuro serão elas que estarão no nosso lugar, cavalgando, tropeando e organizando as cavalgadas. Agradecemos a Deus e a todas as pessoas do município e de fora que vêm prestigiar e participar do nosso evento. É só agradecer mesmo.” comenta Joãozinho Tropeiro.
João Carlos da Silva, conhecido como Carlinhos, é o fundador do Grupo Os Tropeiros Nativos de Piraí do Sul e responsável pela criação da lei municipal que comemora o Dia do Tropeirismo. Carlinho reflete sobre a tradição familiar: “Meus avós eram tropeiros, e herdamos esse sangue, esse gosto. Nós gostamos disso e temos fé em Nossa Senhora das Brotas, padroeira dos tropeiros e agricultores. Fundamos o grupo em 2003 e, desde então, temos crescido. Hoje, acolhemos mil cavaleiros aqui, e é importante que as crianças participem para que essa tradição não morra. Em muitos lugares, ela só existe no papel, mas aqui continua viva, graças a Deus e ao apoio de todos vocês.”, afirma Carlinho.
O café tropeiro é um dos pontos altos do evento, mantendo viva uma tradição culinária. Carlinho explica: “Tem paçoca, virado de feijão com torresmo, aquela tradição antiga que muitas crianças nem conhecem. Hoje também temos o carro de boi, que muitas crianças não conhecem, mas é importante manter essa tradição.”
Em meio ao clima festivo do encontro em Piraí do Sul, Thiago Talevi Pereira da Silva, o Thiago Braçudinho, da Comitiva Braçudo Veio de Telêmaco Borba, destacou a importância do evento: “Meu pai era um tropeiro raiz. Tenho orgulho de continuar essa tradição. Ele sempre dizia que estamos aqui para fazer história. Estar aqui hoje é uma grande satisfação, honrando meu pai e seus companheiros.”
Thiago lembrou como a comitiva, antes de Nossa Senhora das Brotas, foi renomeada em homenagem ao pai:“Meu pai era o pilar do tropeirismo em Telêmaco Borba. Agora somos Os Tropeiros - Braçudo Véio, perpetuando seu legado.”, conta.
Ele enfatizou a importância da transmissão de conhecimento entre gerações: “A tradição do tropeirismo é forte em Piraí do Sul, Telêmaco Borba e outras cidades da região. É uma marca cultural significativa, mantida por poucos, mas que esperamos perdurar por muitos anos.”
Vinícius Nadal de Masi, presidente do Clube dos Tropeiros Alma Sem Fronteira de Jaguariaíva, fala sobre a importância cultural do tropeirismo no Paraná: “A identidade cultural do Paraná tem muito a ver com o tropeirismo. Quando o Paraná ainda pertencia ao estado de São Paulo, os tropeiros que moravam na região dos Campos Gerais abriam caminho para Viamão. Durante esse período, pequenos povoados se transformaram em vilas e, depois, em cidades. Hoje, vemos eventos que cultivam essa cultura, perpetuando as tradições dos mais velhos para os mais novos.”, incentiva.
Vinícius também destaca o impacto econômico desses eventos: “O setor de Equinocultural no Brasil movimenta mais de vinte bilhões por ano e gera mais de dois milhões de empregos. Esses eventos movem a economia local, desde o sapateiro até o domador, envolvendo um ciclo econômico completo. É importante incentivar esse tipo de evento, pois tem muito a ver com nossa cultura.”, afirma Masi.
Maria de Lurdes Santos Silva, secretária de turismo de Piraí do Sul, enfatiza a importância de eventos como esses para a região: “A importância do tropeirismo já é conhecida pela população. As crianças crescem conhecendo essa história, tanto na escola quanto nos encontros. Isso é um tesouro, muito mais do que o próprio turismo. Manter a cultura local junto com os jovens é de uma riqueza infinita. Eles vão levar adiante a história da nossa cidade e da nossa região.”
Pe. Luiz Carlos Mirkoski, reitor do Santuário Nossa Senhora das Brotas, fala sobre a devoção dos tropeiros, "Quero agradecer a presença de tantos tropeiros em nosso Santuário Nossa Senhora das Brotas."
Durante o evento, o reitor conduziu os presentes em uma oração comum, destacando a gratidão por todos os acontecimentos, desde a preparação até o momento da celebração. "Rezamos a oração comum a todos, a oração do Pai Nosso, pedindo esta benção para o dia e expressando gratidão por tudo que vivemos até o momento", disse Pe. Luiz Carlos.
A benção foi estendida a todos os presentes e seus animais, um gesto de caridade e um símbolo do propósito maior da fé que os une. Encerrando a cerimônia, o Padre Luiz Carlos Mirkoski invocou a proteção divina sobre todos. "E desça sobre todos vocês, sobre os animais, sobre as necessidades que aqui foram ditas e sobre este gesto de caridade, dando um propósito no que vocês estão fazendo. Que a benção de Deus Todo-Poderoso, pela intercessão de Nossa Senhora das Brotas, esteja com todos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém", finalizou o reitor.
Sandro Costa, da Comitiva Cowboy On the Mission, combina seu amor pelos cavalos com seu trabalho missionário: “Nós unimos o trabalho a cavalo com a missão. Trabalhamos com crianças, adolescentes e casais, distribuindo livros e cestas básicas nas comunidades carentes. ”, conta.
Dorety Maria Reis Costa, integrante da mesma comitiva, explica o intuito do trabalho: “Entregamos literaturas que trazem valores familiares e conscientização sobre os perigos das drogas e a importância do tempo com Deus e a família. Distribuímos esses materiais gratuitamente durante as cavalgadas e em ações voluntárias, levando esperança e apoio para as comunidades necessitadas.”
Em um mundo cada vez mais tecnológico, há quem preserve com orgulho as tradições que moldaram a vida no campo. José Maia da Silva, um veterano carreiro de Siqueira Campos, mantém viva a cultura dos carros de boi, um legado que transcende gerações e encanta curiosos em eventos rurais por todo o Brasil.
José Maia, compartilha sua experiência com os carros de boi: “Desde criança, trabalho com os bois, faz uns vinte anos. Sempre estou nas cavalgadas, levando para as crianças conhecerem essa tradição. É importante que os pequeninos aprendam esse ofício. Cuidamos dos bois e dos carros, e é gratificante ver a curiosidade das pessoas.”.
A imagem de José Maia, guiando pacientemente os bois na cavalgada, é uma cena que remete a um tempo em que o ritmo do campo era ditado pelo movimento lento e cadenciado dos carros de boi. "Todo ano tô aqui," afirma ele, referindo-se à sua participação em eventos rurais. Em relação aos bois menores ele explica, "É importante ter os pequenininhos na frente e os maiores atrás, quer dizer que os pequenininhos estão aprendendo também esse ofício."
Um aspecto fascinante e muitas vezes desconhecido dos carros de boi é o canto da roda. "O canto da roda do carro de boi é muito importante," destaca ele. "Vai do peso. Tem que pôr peso pra ele cantar. Conforme o peso, ele canta diferente, muda de voz. O carro bate num buraquinho, numa pedra, ele muda de voz."
A cada evento, José Maia não apenas mantém viva uma tradição, mas educa novas gerações sobre a importância de respeitar e valorizar a cultura do campo. Sua presença em eventos é uma oportunidade para o público urbano conectar-se com suas raízes rurais.
A tradição do tropeirismo no Paraná é uma herança viva, que continua a inspirar e unir gerações. Eventos como a V Encontro Tropeiro não apenas celebram a cultura local, mas também fortalecem os laços comunitários e impulsionam a economia regional.
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